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O Luxo do menos


A moda dá uma respirada profunda

– Texto de Anna Harrison para a Russh Magazine


Em As Leis da Simplicidade, John Maeda define em uma linha o que é talvez o princípio mais importante de nosso tempo: “A simplicidade consiste em subtrair o óbvio e acrescentar o significativo”. Das últimas décadas de poses e ostentação, o adicionar e mostrar ligados ao máximo, o carregar nos ombros nossos pontos de vista sócio-políticos e escolhas de lifestyle, um movimento oposto tem vindo como uma onda leve, em um suspiro longo e lento. O nosso pensamento em torno do que é, realmente, preencher nossas vidas com significado e participar na formação da nossa arquitetura cultural está lentamente começando a mudar. Uma nova abordagem em pontos essenciais, matérias-primas e um menos-que-menos-é-mais. Uma alma livre que não está morta, estava apenas meditando.

O movimento boêmio dos anos 60 e 70 – pense em adornos, ondas de LSD, rockers e Woodstockers – foi todo sobre jogar as convenções pro alto e fazer barulho, quebrando os padrões de uma sociedade engessada por meio de uma estética de alto impacto, da arte à música e moda. Mas um ethos que começou como um empurrão contra códigos morais rígidos aparece muito diferente no contexto contemporâneo. A rebelião do nosso tempo é menos sobre desafiar um paradigma sócio-político repressivo e mais sobre virar as costas para uma ordem corporativa generalizada. Simplesmente agindo, desejando e acumulando menos, estamos fazendo uma declaração bastante poderosa – com essas declarações que não estamos fazendo. Ao abraçar a sutileza e o resgate dos valores mais simples do passado para uma era tecnológica, estamos lentamente, mas, seguramente, saindo da corrente frenética do consumismo. E a moda, como sempre, está necessariamente seguindo o exemplo, ou, em alguns casos, liderando

Nas passarelas Primavera/Verão, tons de terra e linhas limpas, arquitetônicas. Na Hermès as roupas eram uma extensão do ambiente natural – a flora selvagem da selva e as diferentes e profundas tonalidades da Terra. Dries Van Noten trabalhou com franjas e motivos tribais tradicionais com tecidos crus, orgânicos, de chita, e roupas cortadas com linhas fluidas e bem trabalhadas. De Givenchy para J.W.Anderson, os designers foram redefinindo o boêmio, subtraindo ao invés de adicionar – retirando os não-essenciais. Criando um novo tipo de luxo, concentrando-se em design inteligente, qualidade e conforto acima das declarações em excesso e ousadas. Logomarcas, apliques e somas estranhas estão desaparecendo do vestuário e dos acessórios em favor de uma estética decididamente minimalista. A indústria está começando a entender que, enquanto muitos de nós amam e apreciam as coisas belas, já não queremos desfilar riqueza e status em um mundo de desigualdade gritante e angústia ambiental. Como prejuízos do stress, o “workaholismo” e os demais excessos da vida moderna estão se tornando cada vez mais evidentes, sendo priorizada então uma volta ao básico: comida de qualidade, tempo de qualidade, desconectar-se, desestressar e criar um mundo melhor. Se a musa dos Rolling Stones Anita Pallenberg fosse teletransportada de 1969 para 2014, ela deveria estar como Daria Werbowy nas campanhas icônicas da Céline. Descontraída, refinada, discreta – e nada envolta em excessos inúteis.


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